Crescer é um verbo estranho. Digo isso ao deixar de lado os tamanhos e os números que preconceituosamente deveriam ilustrar minhas vontades e idéias, mesmo que a idade não seja um adjetivo. E mesmo assim continuo tendo meus pensamentos enquadrados no que pensam ser a definição da palavra JUVENTUDE.
Por que este substantivo, que serve para ilustrar um período entre a infância e a idade adulta, é usado na grande maioria das vezes como adjetivo? Procuro um rótulo ao me olhar no espelho. Encontro reflexos de atitudes que me levam a uma possível explicação.
Observe à sua volta... Olhos distintos, o mesmo cabelo, diferentes narizes, os mesmos assuntos (ou falta de), vozes de tons variados e a mesma necessidade de inclusão. O que nos foi imposto como certo, bonito e melhor transformou-nos em massa homogênea. O diferencial de agora é a COR das camisetas, ou do cadarço do tênis... A propósito: não corras o risco de perder o seu lugar na mesa do Bar do Júlio pra alguém que comprou o tênis da moda antes de ti, vai logo derramar tua personalidade em uma quantia de dinheiro!
É divertido pensar que demos permissão para que nos rotulassem. Contraímos uma espécie de paralisia mental que não nos permite sair dessa massificação. Nem ao menos se pode enxergar à volta...
Sinto que meu corpo cresce, mas minha mente estancou, e vai se tornando pequena.
Espera. Já não sei mais quem estou vendo do outro lado do espelho...
Tiro minhas roupas e jogo-as longe.
Desarrumo o cabelo.
Abro a cortina...
Já é primavera.
(texto publicado no Jornal da CACA)