"Pra que(m) serve o teu conhecimento?"

A partir da célebre frase escrita em um muro do campus do vale (UFRGS) tive uma brainstorm* (combinando com esse dia cinza), e finalmente descobri o momento de começar este blog: AGORA.

- Todo o dia eu acordo as 6h10 da manhã, tomo meu café sossegada, me visto correndo e pego o ônibus atrasada. Felizmente chego cinco minutos antes de começar o primeiro período, procuro uma classe em um local agradável, sento e aperto play.
Enquanto copio as fórmulas para calcular o volume de um cilindro percebo que algo me perturba. Penso que eu deva estar muito grande para aquela classe verde na qual eu sento desde que me lembro, e procuro outra posição, mas continuo sentindo algo de errado. Decido olhar em volta, e encontro réplicas de minha pessoa: vestidas iguais, sentadas iguais, igualmente presas, subordinadamente iguais... estamos todos olhando para frente, para a única pessoa de pé que segue falando. Observo mais, e a sala parece ficar cada vez menor comparada ao sol que brilha lá fora. De repente, ouço meu nome em um grito, o que me faz lembrar que preciso absorver a matéria para ir bem na prova.
Finalmente toca o sinal e eu aperto stop.

Apenas um textinho introdutivo para refletirmos sobre o que toma grande parte do nosso tempo diário: o ensino, a educação, o conhecimento.
O que realmente aprendemos nos 45min. (ou mais) de cada matéria?
Penso que ter conhecimento não pode mais ser apenas "tirar nota máxima" em todas as provas... Ao nos depararmos com o mundo fora do colégio, como vamos saber qual lei de Newton utilizar? As manchetes dos jornais, que quase não tenho tempo de ler, não falam sobre paralelogramos... E AGORA??
Eu aprendi tanto, acho que vou passar no vestibular! Depois disso não sei, não tenho certeza se aprendi a pensar...

*brainstorm: termo em inglês que significa tempestade de idéias.

11 comentários:

  1. Por favor Luísa, por que é que tu nunca tinha criado um blog antes? Sério, teus textos são muito bons! Tu consegue colocar neles idéias que se fossem vistas em outro lugar não teriam o mesmo impacto, até porque mesmo tendo palavras ditas 'bonitas' eles são do gênero: leia-me se for capaz.

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  2. Lupí adorei teu texto, acredito que sim todos acabamos sendo alienados devido ao nosso cotidiano e um deles é o que vivenciamos agora que é ír ao colégio. Isso de estudar apenas para provas e principalemente para o vestibular é consequência do nosso sistema, o capitalismo, porque ele nos transforma em pessoas competitivas e invidualistas. E a pergunta que eu deixo..o que podemos fazer para isso mudar? Cabe a nós fazermos essas mudanças?
    Beijos Jessi :D

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  3. Lu, queriiida... Lembrei de quando sentava no mesmo lugar que tu estas agora,lembro que eu me sentia presa, e brigava e esperneva, ás vezes até bagunçava o correto. Mas nunca parei para refletir assim. Lindo, tuas palavras são de uma lucidez que me encantaram e me emocionaram ao mesmo tempo! Te amo filha.

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  4. Desculpa. Eu li e achei legal sabe, mas o conteúdo ele deixa a desejar, porque isso que aprendemos (não digo tudo, mas grande parte) serve sim, pra muita coisa. Como um colega me disse esses dias, não é porque não "cai" no vestibular que não precisamos aprender, ou seja, não é porque não é o que tu espera o nosso ensino que tenhamos que mudá-lo, a pensar aprendemos sozinhos, o colégio tem a funçao que tem há tempos. Reclamar não leva a nada no mundo de hoje, tanta gente não tem e tu preocupada se a sala está pequena ou a classe muito verde, desculpa, talvez eu esteja enchergando o "lado errado" mas acho que nós alunos reclamamos demais por nada, sendo que só temos mais um ano e terminou. Continue escrevendo, gostei, bjinhus

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  5. Concordo em partes contigo. Nao tive a intenção de generalizar tudo o que aprendemos e dizer que nada presta, mas sim a intenção de lembrar que tem bastante coisa além disso que é ignorada! Gostei que não concordes, mas acho que devias te identificar! Não há problema algum!
    Peço, por favor, que leias de novo o texto, pois o que eu quis falar vai além de cor de mesa e tamanho de sala!!
    Agradeço mesmo teu comentário, críticas são semrpe bem vindas.

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  6. O aluno levanta a mão e o professor diz:
    - Espera um pouco, perguntas depois da explicação.
    O aluno pacientemente espera a explicação e então pergunta:
    - Quando é o banho de sol?

    Acho que essa pergunta resume a agonia que sentia dentro das salas de aula do Aplicação. Aí penso se foi o colégio que diminuiu, me apertando com as suas vorazes paredes, ou se eu cresci demais, antes do que "eles" planejaram pra mim.

    Pra mim? Quem sou eu, quem eu penso que sou pra ser singular?

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  7. No mais, me fez pensar no que estou fazendo comigo mesma.
    O que significa todo esse aprendizado? Toda essa agonia que a gente sente, a vontade de sair, se libertar, correr pelo mundo. Essa sensação de estar preso, acorrentado à uma classe, como se por 5 horas ao dia estivéssemos sentados numa cadeira de rodas.
    No entanto, entrei nesse clima e esqueci de viver minha própria vida. Esse texto abriu meus olhos para o que está acontecendo. E é emocionante ver tu está tão insatisfeita quanto eu.
    Parabéns por ter feito algo tão bom.
    Beijos da Ka!

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  8. "... sento e aperta play" olha, ainda acho que somos privilegiadas por ficarmos somente 5 períodos de 45 min por dia no tal piloto automático. Parece bastante ruim né?! Pois creio que tende a piorar... imagina só quando tivermos que trabalhar, espero, claro, que sejamos novamente privilegiadas e tenhamos um emprego que estimule o nosso trabalho intelectual, e nao o mecanize. O tempo fora da automatização cotidiana, que já era pequeno, tende a diminuir mais ainda!

    Abrir mão disso talvez fosse possível se não dependêssemos do resultado bruto desse trabalho, dessa escola, dessa rotina.

    Luu adorei o blog!! Tomara que te ajude a organizar teus pensamentos e tal, um escape desses é muito válido! bjs

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  9. Uma reflexão sugerida por Rubem Alves:

    Ah, o ritmo das aulas. Toca a campainha, é hora de pensar português. Toca a campainha, é hora de parar de pensar português e começar a pensar matemática. Toca a campainha, é hora de parar de pensar matemática e começar a pensar geografia. E assim por diante. O ritmo e a fragmentação das aulas estão em completo desacordo com tudo o que sabemos sobre o processo de pensamento. Não é possível dar ordens ao pensamento para que ele pare de pensar numa coisa numa certa hora e comece a pensar em outra.
    Mas há ainda um quarto pressuposto: "A avaliação da aprendizagem se faz por meio de provas e testes e os seus resultados são expressos em números." Confesso ainda não ter compreendido a função pedagógica desse procedimento. Sobre isso há muito a ser escrito.

    Luísa, muito boa a ideia do blog! Espero que continues postando textos, provocando reflexões e atualizando pensamentos.. bj.

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  10. Como dito anteriormente, o colégio está lá e tem a função que tem faz tempos. O que não quer dizer que não tenha que ser modificado - algo que realmente necessita acontecer.
    No contexto mundial atual, se vê um sucateamento do ensino em quase todos os lados do globo, com exceção de alguns países que mantêm um nível bom com a aplicação de métodos pedagógicos adequados.
    O método brasileiro é atrasado - ensina-se Vigotsky nas faculdades de pedagogia por pura demagogia - o mesmo não é utilizado. Há um vão gigantesco entre o professor e o aluno.
    O estudante não é incentivado a estudar, não estuda, reprova e, muitas vezes por desespero, apela para meios anti-éticos afim de chegar num objetivo desejado. Constrói-se toda uma sociedade erroneamente apartir daí.

    "Reclamar não vai ajudar nada" é justamente uma das mensagens que nos é transmitida diariamente de todas as maneiras possíveis, e o papel da escola é, sobretudo, mostrar-nos que essa visão está errada, que podemos, de diferentes formas, conseguir melhorias e conseguir o que queremos.

    E eu espero, Luisa, que tu, atráves desse blog, consigas expressar tudo que queres, de diversas formas.
    Um grande abraço,
    Matheus Tatsch

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  11. Ótima reflexão. Curta e concisa.

    Um dos grandes errados da educação pré-cambriana brasileira se encontra no despejo sem propósito de informações aos alunos, que não tem melhores reações fora se entregar à embasbacância ou ignorar sem mais. Alguns raros individuais conseguem tirar algum sentido da enxurrada de nomes ou fórmulas que desce quadro abaixo, mas essa compreensão geralmente já vem de casa, dos livros - menos da escola.

    Pessoalmente, a educação devia ser seletiva. Por exemplo, estudante tal é um absoluto lixo com cálculos complexos, mas possui ótimas habilidades de interpretação textual. A sua formação se beneficiaria bastante se ele pudesse escolher estudar Humanas com melhor ênfase e manter Exatas a um mínimo lógico e útil. Isso tudo, é claro, com uma aproximação mais compreensiva e menos jorrante dos conhecimentos.

    Apenas uma possibilidade, sabe-se lá. beijo

    ps. lembrei-me disso, http://www.maa.org/devlin/LockhartsLament.pdf

    Não li tudo, parece interessante.

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