atando e desatando

E no meio de tantos nós, somos nós; somos sempre os mesmos de sempre. Sem querer, e sem querer saber do "pra sempre". Vivendo um dia de cada vez, sem morrer em hora alguma dessas poucas vinte e poucas... E é dentro delas que seguro tua mão com a certeza de que meus cabelos te diziam essas palavras agora jogadas no papel. Somos cúmplices do invisível, meu amor. Do que teus cílios me sussuram, e meu beiço responde ao teu nariz. Do que nossas mãos nos corpos procuram, enquanto as almas dizem: sou feliz.
Sou feita de vermelho, alfabeto, abraço e crítica, e costumo oscilar seguramente entre as subdivisões destes seres que venho construindo. Meus cinco sentidos são a pele, a palavra, a arte, o olhar e o absorver, e minha memória é seletiva. Ainda não compreendi muito bem quais são os critérios utilizados na sua seleção, mas sobrevivo, e guardo muito bem aquilo - e aqueles - que conheço de verdade. Mantenho esses seres e saberes junto com a minha curiosidade, a qual tento poupar pra quando ficar mais velha, menos pulsante, com cinza e mofos.

Perdoa-me se sou poeta

Perdoa-me se sou poeta;

Se perco a fala, não é por despeito,
Apenas evito que meus excessos
percam efeito no peito que é teu.

Se não respondo,
De nada tem com algum chateio.
A culpa é desse instante
que pediu para ser escrito.

Perdoa-me se sou poeta;

Se pareço aflita,
Ou se estou de cara feia,

não vejas como humor barato!
São só essas idéias jovens
que não sabem como cair no papel.

Perdoa-me se sou poeta;

E quando desando a falar
não percas a paciência!
Às vezes é necessário que eu me
permita sair.

E se sou por demais romântica
não seja bobo de encomodar-se,

- aproveitemo-nos -

é só meu coração abobalhado
presenteando-te de verbetes
que foram expulsos da minha alma.

Perdoa-me se sou poeta;

se te faço poema,
e te sugo poesia.
Mas perdoa-me, suave e sempre...
É que me meteram os pés pelas mãos,
e o coração pelo cérebro.

Perdoa-me,
e deixa meu palavreado
entrar.

‎"Tudo quanto fazemos, na arte ou na vida, é a cópia imperfeita do que pensamos em fazer" (Fernando Pessoa)

Está chovendo e eu;
Queria mesmo é estar correndo pelada na rua, sentir esses pingos escorrerem pelo meu corpo na ausência de qualquer obstáculo de pano... Deixar a transparência da chuva penetrar os meus poros, e me lavar por dentro. Renovar-me por completo, afinal, sou feita de água - e apenas algumas coisinhas mais.

minhas asas azuis

Sou nuvem.
Meu reflexo no espelho é nublado,
e não apenas quando minha visão se umedece,
não me vejo mais como antes via.
O orgulho
- que minhas sobrancelhas levantadas ostentavam
por conhecerem muito bem
esse meu cérebro gelado - é inútil.

Agonizo - e ainda mais
por saber a causa de
toda
essa
         z
           o
              n
                 a

Aquele maldito pássaro azul*
que encerrei,
amordacei
e esqueci aqui dentro,
acordou.

O desgraçado canta
com tanta vontade
que minha voz se vai;
Consome-se dia após dia.
Ele faz do meu corpo
seu bebedouro de praça,
e se banha,
se lambuza em

TUDO que
TANTO
TENHO sentido
e ressonado sempre,
como nunca,
- por todos os eus que abortei -

por toda minha vida.

* escrito após a leitura de Blue Bird, do velho Hank


Pingos de Julho

Eu realmente achei que só estivesse chovendo dentro da minha cabeça.
Demorei uns bons minutos pra sentir os pingos pesados que me encharcavam nessa manhã escura de terça-feira enquanto voltava para casa.
O caminho tornara-se mais demorado do que o de ida, mesmo sendo eles iguais.
Sabe-se que o tempo é uma grandeza relativa - mesmo sem lembrar nada de física;
Ele consegue passar em velocidades diferentes conforme a intensidade da nossa distração.
Quanto se passou até que eu percebesse
as lágrimas?
Só sei ao certo que não chovia mais... Ou que nunca choveu.

Doesn`t matter if it`s north or south

    The years are going away increasingly fast, and it happens because of the fast and full daily routines that people build in their lives. You have to work or study, you have to have fun, you have to keep your house or bedroom habitable, you have to keep yourself informed, you have to eat, you have to learn, you have to breathe… Do you have time to do it? The answer is yes, if you start to do everything at the same time. Here comes the TV.
“Do you know that we are ruled by the television?” said Jim Morrison, from The Doors, in the song An American Prayer.
This electric machine was turned on for the first time in 1928, and until today was not turned off. Seems such a good idea to get information, emotions, styles and fun from the same object, but in practice the things get a little bit worst.

What do you think?

(not finished, but still)