nunca fui ao oftalmologista

Rale os joelhos, Íris, deixe todas suas calças com pedaços de nada, bem ali onde cobririam a patela. Prenda os cadarços da chuteira, solte as unhas... Role na terra, seja a polícia e o ladrão, mas não seja "café-com-leite". Não peça o ferrolho, menina, você varou o mundo já sabendo seguir sem ele.
Troque esse rosa por roxo, mulher, combinando com a cor dos teus instintos... Escute-os. Aprendeste a ouvir os outros desde o umbigo, agora é tempo de sentir-se. Liberte estes cachos, desce deste salto e vai.
Gemem as pálpebras,
abraçam-se os cílios,
e adormecem as sobrancelhas,
expulsando o claro
- escondendo o óbvio.

Adianta-se a lua,
parindo prematuramente
as primeiras estrelas.
Uma, duas, três,
sete...
Sete brilhos natos,
vindos no escuro.
Condicionados desde o umbigo
ao uso de pouca luz.
Transformados em buracos,
não raro, negros.
E até mesmo forçados a esquecer
de sua condição absorvente,
apenas refletem:
desigualdade, miséria...
Esperança?

Movem-se as pálpebras,
implorando o fim do dia.

Eu robô. Tu robô. Ele robô. Nós robôs. Eles roubaram.

Em linha reta,
traçando o perímetro desse quarto
(tão meu e tão quadrado),
eu sigo.
Vou em frente e moldo
a postura adequada,
pois nessa idade já aprendi
que voltar ou parar
é vil demais para ser humano.

Olho adiante,
sempre e só olho adiante.
Observo meu destino dourado
no horizonte,
pescoço espichado,
nariz alcançando a testa.

Para as palavras,
dedico meus dedos.
Mas não para a comunicação.
Tudo o que digito
é para mostrar
o quanto
sei,
sou,
custo.

Pouco me importam
essas bocas querendo
trocar mais e além;
eu já estou onde elas querem chegar.
Eu, e o Meu Teclado.

Em linha reta,
traçando o perímetro Dele
(tão meu e tão quadrado),
eu sigo.
Vou em frente e moldo
a postura adequada,
pois nessa idade já desaprendi
que voltar ou parar
é humano demais para ser vil.

O Microondas

O verão nunca chega de sopetão após o inverno: é necessária a primavera.

Deixa-te florir por dentro
- para que descongeles.
Faze a chuva de verão escorrer pelos teus olhos,
e teus sentimentos
- não mais aguados -
regarem tua vida.
Chego do mercado,
as compras na geladeira
-assim não vencem rápido-
e as embalagens,
jogo fora sem cerimônia.

Sirvo-me de água
no copo descartável.
Enquanto sorvo a transparência do líquido
vivo, automatizo o fim do recipiente:
feito para ir-se. 

Troco a fralda do meu filho,
mais alguns descartes
-como anuncia a embalagem.
As fezes, mal contactam o ar
e se vão; Levo-as ao lixo,
jogo rápido.

Retorno ao quarto:
O bebê está morto.
De novo à lixeira!
Dessa vez trocarei a sacola, PLÁSTICA,
pois muito já se fora hoje
-como se foi o ontem, e se vai o amanhã.

ad eternum?

Parece tão forte enquanto vaga no azul infinito
Girando, colorindo-se com a luz do sol,
tão sempre,
tão bela,
tão cheia...

Até que rompe-se com o ar
na precisão de uma fração de segundos
tão rotineiros
tão leves
tão passivos,
que nada se imaginava acontecendo dentro deles.

Foi-se ali aquela bolha de sabão;
Ali foi-se muita coisa, ou quase tudo
que não vai lá -um simples ali no futuro.

atando e desatando

E no meio de tantos nós, somos nós; somos sempre os mesmos de sempre. Sem querer, e sem querer saber do "pra sempre". Vivendo um dia de cada vez, sem morrer em hora alguma dessas poucas vinte e poucas... E é dentro delas que seguro tua mão com a certeza de que meus cabelos te diziam essas palavras agora jogadas no papel. Somos cúmplices do invisível, meu amor. Do que teus cílios me sussuram, e meu beiço responde ao teu nariz. Do que nossas mãos nos corpos procuram, enquanto as almas dizem: sou feliz.
Sou feita de vermelho, alfabeto, abraço e crítica, e costumo oscilar seguramente entre as subdivisões destes seres que venho construindo. Meus cinco sentidos são a pele, a palavra, a arte, o olhar e o absorver, e minha memória é seletiva. Ainda não compreendi muito bem quais são os critérios utilizados na sua seleção, mas sobrevivo, e guardo muito bem aquilo - e aqueles - que conheço de verdade. Mantenho esses seres e saberes junto com a minha curiosidade, a qual tento poupar pra quando ficar mais velha, menos pulsante, com cinza e mofos.

Perdoa-me se sou poeta

Perdoa-me se sou poeta;

Se perco a fala, não é por despeito,
Apenas evito que meus excessos
percam efeito no peito que é teu.

Se não respondo,
De nada tem com algum chateio.
A culpa é desse instante
que pediu para ser escrito.

Perdoa-me se sou poeta;

Se pareço aflita,
Ou se estou de cara feia,

não vejas como humor barato!
São só essas idéias jovens
que não sabem como cair no papel.

Perdoa-me se sou poeta;

E quando desando a falar
não percas a paciência!
Às vezes é necessário que eu me
permita sair.

E se sou por demais romântica
não seja bobo de encomodar-se,

- aproveitemo-nos -

é só meu coração abobalhado
presenteando-te de verbetes
que foram expulsos da minha alma.

Perdoa-me se sou poeta;

se te faço poema,
e te sugo poesia.
Mas perdoa-me, suave e sempre...
É que me meteram os pés pelas mãos,
e o coração pelo cérebro.

Perdoa-me,
e deixa meu palavreado
entrar.

‎"Tudo quanto fazemos, na arte ou na vida, é a cópia imperfeita do que pensamos em fazer" (Fernando Pessoa)

Está chovendo e eu;
Queria mesmo é estar correndo pelada na rua, sentir esses pingos escorrerem pelo meu corpo na ausência de qualquer obstáculo de pano... Deixar a transparência da chuva penetrar os meus poros, e me lavar por dentro. Renovar-me por completo, afinal, sou feita de água - e apenas algumas coisinhas mais.

minhas asas azuis

Sou nuvem.
Meu reflexo no espelho é nublado,
e não apenas quando minha visão se umedece,
não me vejo mais como antes via.
O orgulho
- que minhas sobrancelhas levantadas ostentavam
por conhecerem muito bem
esse meu cérebro gelado - é inútil.

Agonizo - e ainda mais
por saber a causa de
toda
essa
         z
           o
              n
                 a

Aquele maldito pássaro azul*
que encerrei,
amordacei
e esqueci aqui dentro,
acordou.

O desgraçado canta
com tanta vontade
que minha voz se vai;
Consome-se dia após dia.
Ele faz do meu corpo
seu bebedouro de praça,
e se banha,
se lambuza em

TUDO que
TANTO
TENHO sentido
e ressonado sempre,
como nunca,
- por todos os eus que abortei -

por toda minha vida.

* escrito após a leitura de Blue Bird, do velho Hank


Pingos de Julho

Eu realmente achei que só estivesse chovendo dentro da minha cabeça.
Demorei uns bons minutos pra sentir os pingos pesados que me encharcavam nessa manhã escura de terça-feira enquanto voltava para casa.
O caminho tornara-se mais demorado do que o de ida, mesmo sendo eles iguais.
Sabe-se que o tempo é uma grandeza relativa - mesmo sem lembrar nada de física;
Ele consegue passar em velocidades diferentes conforme a intensidade da nossa distração.
Quanto se passou até que eu percebesse
as lágrimas?
Só sei ao certo que não chovia mais... Ou que nunca choveu.

Doesn`t matter if it`s north or south

    The years are going away increasingly fast, and it happens because of the fast and full daily routines that people build in their lives. You have to work or study, you have to have fun, you have to keep your house or bedroom habitable, you have to keep yourself informed, you have to eat, you have to learn, you have to breathe… Do you have time to do it? The answer is yes, if you start to do everything at the same time. Here comes the TV.
“Do you know that we are ruled by the television?” said Jim Morrison, from The Doors, in the song An American Prayer.
This electric machine was turned on for the first time in 1928, and until today was not turned off. Seems such a good idea to get information, emotions, styles and fun from the same object, but in practice the things get a little bit worst.

What do you think?

(not finished, but still)

Exchanging the Exchange Experience


It is all about sizes. Exchange students coming and going to different parts of the earth want to be bigger, and to reduce distances between the places to make sure that in the end everything will seem smaller.
Take a risk, get on a plane and step forward into a new land. You will feel that people are very similar behind the clothes, the colors, the beliefs, or shapes. In spite of this apparent equality of the human race, we are born to be different. Everything that surrounds us, the weather, the soil, the vegetation, the flora and fauna influence us in distinct ways. The historical realities of our respective countries, the types of government, the wars, the arts… All are unique to every continent, every country, every state and every city. And these differences do not exist to drive us apart, but to make us globally precious.
Since the beginning of time, people have traveled and mixed their cultures, but today, because of technology, it is easier to stay home; this has paralyzed us.  No one needs to travel to know what is happening on the other side of the world, but not directly experiencing culture is dangerous. The exchange programs that encourage teenagers to travel are helping them to run away from this “technology” that alienates them from the world, and it is also giving the students a way to get out from their “happy bubbles”. From these experiences they can see that the world is gigantic, but the distances between continents decrease when one has a wider perspective.
Living in a place that you do not know can be like using new shoes. You already know how to walk, but you have to get used to do it differently, and the first steps will be painful. It is complicated to find your own way and to express it to people that have preconceptions about you because of where you came from. Besides, the majority of the people are too involved in their own lives to start to know someone from zero. It takes a lot of energy and time, I guess.
It is really cool when someone says:
“Hi! How do you like Weston so far?”
 But it is also really obvious and easy. What was the motivation of all these people to ask me the same question? I want to understand what they are offering me and what they want to exchange… What makes them interested? I do not know, but I would love to find out.
      The exchange that I am interested in has to do with understanding and decreasing this huge distance between people that live almost in the same continent. This is why decided to live these months here and do not just stay home.

Arte;

Há dias que não escrevo. As letras transbordam da minha alma a cada minúsculo –quase imperceptível- espaço de tempo, a cada relance de vida que passa quando pisco meu olhar assustado... E foge de mim a capacidade de fitá-las de modo que possam expressar o que não seja sinônimo de confusão, e não cause agonia.
Sabe... tanta coisa se sucede ao mesmo tempo. À medida em que meus passos fluem pelas ruas percebo as quantidades, travo na diversidade, agonizo na multiplicidade e enlouqueço na impossibilidade de focar tudo ao mesmo tempo –de focar a vida por inteiro. Quiçá pudesse eu estar em todos os segundos que passam paralelamente aos meus.
Tantos ares -e tantas datas- são expirados. Tantas folhas –e tantas pessoas- caem. Tantos gestos –e tantas luzes- acendem e apagam. Tantos tantos tanteiam ao meu redor, e me paralisam... Paralisam-me de uma paralisia consciente, mas irremediável enquanto decide existir. Encontro-me –ao fitar o espelho- atônita. Não porque não desejo fazer coisa alguma, mas sim porque meu desejo de tudo fazer chegou no seu limite...
Encontrou-se com a realidade, uma moça que vive só.