O gato sumiu

O gato sumiu
E os rebeldes turcos morrem na tv
junto à mesa onde escrevo aos vizinhos:
"o gato sumiu"
Lê a moça do 204 subindo as compras da janta
enquanto o gato espia a tv do apartamento ao lado
onde os turcos morrem sem que Alceu os veja:
É que ferveu a água da massa.

brrrrrr

Tanto faz
inverno ou verão
eu derreto igual.
Eu nao consigo
essa dureza
do gelo
ou tudo que o sustenta
assim tão
impenetrável
de estruturas internas
tão estáticas...
Ah, se eu soubesse
se me dissessem
Que é só o medo
de derreter
que endurece
a água...

É inútil concluir que



Decidi tomar mais cuidado com meus pontos finais, não quero mais com eles cravejar nossos cérebros eletronicamente treinados pra acreditar, reproduzir e separar (não só nessa ordem)
Quando vejo hoje uma frase fechada, consigo sentir a voz rouca do inconsciente coletivo me perguntando as clássicas dualidades... deu defeito de fabricação no coitado, e ele só sabe ramificar em dois: sim ou não? certo ou errado? ama ou odeia?
- Eu não sei
Manter esse tipo de relação com o que leio não parece colaborar pra minha saúde mental e comportamental, eu fico aqui ali e lá pensando, onde eu vou enfiar esse monte de conclusões? O que eu vou fazer quando escolho o feio, se a sobrevivência desse conceito depende eternamente da existência do belo? E a forma depende da ausência de forma assim como a luz depende da escuridão... Eu só posso escolher os dois, ou nenhum, ou, melhor ainda, tudo isso ao mesmo tempo e pulando (deixo aqui aberto a palavras engatáveis, impulsionáveis, expulsionáveis, enfim, quero ver como se relacionam os verbetes flutuando no limbo “inseguro” da incerteza)