O Microondas

O verão nunca chega de sopetão após o inverno: é necessária a primavera.

Deixa-te florir por dentro
- para que descongeles.
Faze a chuva de verão escorrer pelos teus olhos,
e teus sentimentos
- não mais aguados -
regarem tua vida.
Chego do mercado,
as compras na geladeira
-assim não vencem rápido-
e as embalagens,
jogo fora sem cerimônia.

Sirvo-me de água
no copo descartável.
Enquanto sorvo a transparência do líquido
vivo, automatizo o fim do recipiente:
feito para ir-se. 

Troco a fralda do meu filho,
mais alguns descartes
-como anuncia a embalagem.
As fezes, mal contactam o ar
e se vão; Levo-as ao lixo,
jogo rápido.

Retorno ao quarto:
O bebê está morto.
De novo à lixeira!
Dessa vez trocarei a sacola, PLÁSTICA,
pois muito já se fora hoje
-como se foi o ontem, e se vai o amanhã.

ad eternum?

Parece tão forte enquanto vaga no azul infinito
Girando, colorindo-se com a luz do sol,
tão sempre,
tão bela,
tão cheia...

Até que rompe-se com o ar
na precisão de uma fração de segundos
tão rotineiros
tão leves
tão passivos,
que nada se imaginava acontecendo dentro deles.

Foi-se ali aquela bolha de sabão;
Ali foi-se muita coisa, ou quase tudo
que não vai lá -um simples ali no futuro.