Gemem as pálpebras,
abraçam-se os cílios,
e adormecem as sobrancelhas,
expulsando o claro
- escondendo o óbvio.

Adianta-se a lua,
parindo prematuramente
as primeiras estrelas.
Uma, duas, três,
sete...
Sete brilhos natos,
vindos no escuro.
Condicionados desde o umbigo
ao uso de pouca luz.
Transformados em buracos,
não raro, negros.
E até mesmo forçados a esquecer
de sua condição absorvente,
apenas refletem:
desigualdade, miséria...
Esperança?

Movem-se as pálpebras,
implorando o fim do dia.

Eu robô. Tu robô. Ele robô. Nós robôs. Eles roubaram.

Em linha reta,
traçando o perímetro desse quarto
(tão meu e tão quadrado),
eu sigo.
Vou em frente e moldo
a postura adequada,
pois nessa idade já aprendi
que voltar ou parar
é vil demais para ser humano.

Olho adiante,
sempre e só olho adiante.
Observo meu destino dourado
no horizonte,
pescoço espichado,
nariz alcançando a testa.

Para as palavras,
dedico meus dedos.
Mas não para a comunicação.
Tudo o que digito
é para mostrar
o quanto
sei,
sou,
custo.

Pouco me importam
essas bocas querendo
trocar mais e além;
eu já estou onde elas querem chegar.
Eu, e o Meu Teclado.

Em linha reta,
traçando o perímetro Dele
(tão meu e tão quadrado),
eu sigo.
Vou em frente e moldo
a postura adequada,
pois nessa idade já desaprendi
que voltar ou parar
é humano demais para ser vil.