minhas asas azuis

Sou nuvem.
Meu reflexo no espelho é nublado,
e não apenas quando minha visão se umedece,
não me vejo mais como antes via.
O orgulho
- que minhas sobrancelhas levantadas ostentavam
por conhecerem muito bem
esse meu cérebro gelado - é inútil.

Agonizo - e ainda mais
por saber a causa de
toda
essa
         z
           o
              n
                 a

Aquele maldito pássaro azul*
que encerrei,
amordacei
e esqueci aqui dentro,
acordou.

O desgraçado canta
com tanta vontade
que minha voz se vai;
Consome-se dia após dia.
Ele faz do meu corpo
seu bebedouro de praça,
e se banha,
se lambuza em

TUDO que
TANTO
TENHO sentido
e ressonado sempre,
como nunca,
- por todos os eus que abortei -

por toda minha vida.

* escrito após a leitura de Blue Bird, do velho Hank


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