light my fire

uaahhh, como eu gosto dessa sensação de ressaca. Meu corpo lento e podre, os órgãos esgotados, a cabeça grande e pesada, o resto todo amassado, e sede. Acordo cinco vezes pra beber do bico a água da jarra que sobrou. Acordo cinco vezes pra beber do bico a alma da farra que sobrou. Sede de líquido e sede de invisível, indizível. Acordo, e finalmente acordo atrasada, movendo só os globos oculares porque o resto dói, dói, e existe mais se dói mais. Me arrasto pelos afazeres devorando o prazeroso sentimento de ter esquecido os movimentos comuns. Derreto pelas cadeiras, limitando-me a sorrir, e minha boca não tem a menor vontade de abrir se não for pra jogar um bocejo fora. Caio de sono, mole pelos piores cantos dos ônibus, mas fervo por dentro. Fervo, fervo, fervo com todo o fogo que roubei de vocês na noite passada. Com toda a vida que chupei dos seus copos babados, acendo e fervo. Acho que fiquei com o isqueiro dela. Fiquei com muita coisa dela, e dele, e deles... e por isso FERVO! Agora muito mais do que antes, FERVO! É impossível não embriagar-se de ressaca! Não tem como não sentir esse borbulho interno que me sobrou de ontem. Essas bolhas de alma que fazem palpitar e dão vontade de correr e abraçar umas árvores, e escalar umas árvores e gritar bem alto, muito alto. Esse grito vai curar minha gripe, essa ardência ainda vai durar um tempo no meu estômago. Pegar fogo é remédio pra gastrite, mas não mata a sede. Sobrou pra hoje, como havia sobrado pra ontem e antes.

Um comentário:

  1. Bahh, já tinha esse nome?
    Sério, tudo muito estranho, interligado.
    Te amo de novo, essa vibração nunca para...

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