Nunca gostei de me perguntar que diabo

Nunca gostei de me perguntar que diabo de força nos fez colidir. Nossas almas palpitantes já haviam se empurrado no balcão do bar, se raspado e roçado e pisoteado em um corredor e outro. Os olhares se correspondiam fixamente, tal imãs novos na geladeira velha da vida, enquanto corríamos em círculos, enquanto fazíamos parte de certa dança do acasalamento que se dá antes de qualquer outra coisa se encontrar.
Valia bem mais o externo ao interno, e vale.
As vezes ainda me pego querendo saber (ou afirmar) mais de fora, saber se aquela covinha do canto do meu olho ainda é legal. Mas aí eu entro nesses teus gigantes globos marrons e profundos e saltados, e decido ali que não preciso daquilo tudo que nos disseram necessário, daqueles pacotes enfeitados que embalam presentes, que embalam pessoas, que embalam vontades e verdades.
E eu aspiro e respiro teu cheiro de pele tua como se absorvesse esse velho baú de preciosidades resmungadas que estavam guardadas, estavam escondidas, porque alguém nos disse que deveríamos nos esconder. Não sei porque sempre dizem essas coisas. Acaricio fio por fio da barba suja, de sujeira antes guardada, sujeira que é cada passo dado, nem sempre à frente, mas todos bem andados, feitos de pés descalços nas terras. Passo, de leve, meus fios de cabelo por entre esses pelos andantes, e eles conversam. E são eles que me dizem que os caminhos coincidem, que os caminhos se cruzam, e são tranças e transas e transes nessa vida que começou melhor quando desembrulhamos um no outro amantes do mundo inteiro.

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